CAP IX - O prisioneiro do Cristo
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O Navio de Adramítio da Mísia, em que o Apóstolo
Paulo viajava chegou Sidom, repetindo-se as cenas comovedoras da despedida na
Cesaréia. Júlio, o centurião da guarda, permitiu que Paulo fosse ter com os
amigos na praia. Paulo conquistou ascendência moral sobre o comandante,
marinheiros e guardas e, pregava constantemente durante a viagem.
Depois de costear a Fenícia, surgiram os
contornos da ilha de Chipre. Nas proximidades de Panfília exultou de íntima
alegria pelo dever cumprido, e assim chegou ao porto de Mira, na Lícia.
Foi aí que Júlio resolveu tomar passagem com os
companheiros numa embarcação alexandrina, que se dirigia para a Itália. O navio estava com excesso de
carga, além de trigo transportava duzentas e setenta e seis pessoas. Os ventos sopravam de
rijo, contrariando a rota. Depois de longos dias, ainda vogavam na região do Cnido. Vencendo
dificuldades extremas conseguiram tocar em alguns pontos de Creta.
Paulo observando os obstáculos da jornada e
obedecendo à própria intuição, aconselhou a Júlio passar o inverno em Kaloi
Limenes. Júlio conversou com o comandante e o piloto sobre a sugestão de Paulo,
porém, eles acharam inaceitável seguir a sugestão de um prisioneiro. Toraram a
direção de Fênix e um furacão atingiu de súbito a embarcação, ficando a mercê
do vento e expondo a todos padecimentos angustiosos durante duas semanas.
Todo o carregamento de trigo foi descarregado,
assim como todo o excesso de peso. Este foi um fato que contribuiu para que
Paulo ganhasse maior respeito junto a tribulação e o Centurião. Paulo pregava
para elevar os ânimos e ajudava a todos.
Decorrido quatorze dias o barco atingiu Malta. O
comandante sentindo-se humilhado com a atitude de Paulo, sugere a dois soldados
o assassínio dos prisioneiros antes que fugissem, mas Júlio se opôs
terminantemente.
Malta,uma ilha localizada no Mar Mediterrâneo, ao Sul da Itália.
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Em Malta
Foram abrigados pelos nativos e os poucos romanos
que lá residiam, mas não havia acomodação para todos e o frio era intenso.
Paulo dando mostras de experiência no afrontar intempéries, sugere que se faça
fogo sem demora. Quando Paulo atirava um feixe de ramos secos uma
víbora extremamente venenosa cravou-lhe os dentes na mão. O Ex-rabino
susteve-a no ar e com um gesto sereno e a atirou no fogo, para admiração de
todos. O chefe da coorte e os nativos da ilha estavam desolados porque as
vítimas de tal réptil não sobreviveriam mais que algumas horas. Afirmavam que
Paulo deveria ser um grande criminoso pois se salvara do naufrágio para
encontrar a morte na mordida da víbora.
Diante do prognóstico dos nativos Timóteo se
aproximou de Paulo que orava com fervor e disse o que os nativos falavam,
porém Paulo afirmou:
- Não te impressiones. Estejamos atentos aos nossos
deveres, porque a ignorância sempre está pronta a transitar da maldição ao
elogio e vice-versa. É Bem possível que em algumas horas me considerem um
deus.
Com efeito ao verem que Paulo não apresentava
nenhuma ocorrência relacionada a mordida da víbora, passaram a considerá-lo uma
entidade sobrenatural a qual todos deveriam obedecer. Públio Apiano, o mais
alto funcionário de Malta, ordenou providências para socorrer os náufragos e
reservou os melhores cômodos de sua própria moradia ao comandante e ao
centurião, ao que o chefe da coorte pediu a mesma deferência para o Apóstolo.
Públio atendeu a pedido e solicitou que Paulo
atendesse seu pai que se encontrava doente. Paulo curou o pai de Públio e aproveitou
a oportunidade para pregar as verdades eternas. Públio quis conhecer o Evangelho
e Paulo mostrou os pergaminhos da Boa Nova. Públio ordenou que o documento
fosse copiado e prometeu se interessar pela situação do Apóstolo utilizando
suas relações em Roma.
Durante os meses de inverno rigoroso, os serviços
evangélicos funcionaram regularmente, em um velho salão do administrador. Local
em que multidões de enfermos foram curados. Uma vasta família cristã fora
criada na ilha. Júlio resolveu partir em um navio que havia passado o inverno
em Malta e se destinava à Itália: “Castor e Pólux”.
A caminho de Roma
Chegados a Siracusa, na Sicíla, amparado pelo
generoso centurião, agora devotado amigo, Paulo de Tarso aproveitou os três
dias de permanência na cidade, em pregações do Reino de Deus, atraindo
numerosas criaturas ao Evangelho. Em seguida, a embarcação penetrou o estreito, tocou em
Régio, aproando daí a Pouzzoles (Putéoli), não longe de Vesúvio.
Antes do desembarque o centurião aproximou-se de
Paulo e falou: – Meu
amigo, até agora estiveste sob o amparo da minha amizade pessoal, direta; daqui
por diante, porém, temos de viajar sob os olhares indagadores de quantos
habitam nas proximidades da metrópole e há que considerar vossa condição de
prisioneiro...
Paulo responde que sabia que ele teria de algemar seus
pulsos para a exata execução de teus deveres. O Centurião algemou Paulo a ele.
E determinou que Paulo e os amigos ficassem em uma pensão com ele.
Desejoso de agradar ao velho discípulo de
Jesus, mandou sindicar, imediatamente, se em Pouzzoles havia cristãos e, em
caso afirmativo, que fossem à sua presença, para conhecerem os trabalhadores da
semeadura santa. O soldado incumbido da missão, daí a poucas horas, trazia
consigo um generoso velhinho de nome Sexto Flácus, que lhe informou que já havia
uma igreja e que o Evangelho ganhava terreno nos corações; que as cartas do
ex-rabino eram tema de meditação e estudo em todos os lares cristãos.
Rogaram a Júlio permitisse a demora de Paulo
entre eles, ao menos por sete dias, ao que o chefe da coorte atendeu de bom
grado. Decorrida a semana de trabalhos frutuosos, felizes, o centurião fez ver
a necessidade de partir. A distância a vencer excedia de duzentos quilômetros,
com sete dias de marcha consecutiva e fatigante.
O pequeno grupo partiu acompanhado de mais de
cinqüenta cristãos que seguiram o ex-rabino até Fórum de Ápio, em cavalos
resistentes. Nessa
localidade, distante de Roma quarenta e poucas milhas, aguardava o Apóstolo dos
gentios a primeira representação dos discípulos do Evangelho na cidade
imperial.
De lá a caravana demandou o sitio denominado “As
Três Tavernas” acrescida agora do grande veículo que levava os anciães
romanos sempre rodeada de cavaleiros fortes e bem dispostos. Paulo tinha a
impressão de haver aportado a um mundo diferente da sua Ásia cheia de combates
acerbos. A figura mais representativa dos anciães tomou assento ao lado de
Paulo, o velho Apolodoro, que depois de se certificar da simpatia de Júlio pelo
Evangelho tornou-se mais vivo e minuciosos no seu noticiário verbal, atendendo
as perguntas do Apóstolo.
— Vindes a Roma em boa época — acentuava o
velhinho em tom resignado —; temos a impressão de que nossos sofrimentos por
Jesus vão ser multiplicados. Estamos em 61, mas há três anos que os discípulos
do Evangelho começaram a morrer nas arenas do circo pelo nome augusco do
Salvador.
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Via Nomentana é uma antiga estrada
da Itália. A ponte Nomentano foi construída acima do rio Aniene, no declive da
colina do Monte Sacro. Repetidamente destruídos e restaurados a ponte apresenta
uma variedade de materiais e técnicas de construção que abarca uma ampla
extensão, desde a antiguidade até a Idade Média e moderno. Conforme a
técnica de construção e os materiais utilizados, a ponte original é datada
entre o final do segundo e início do século I aC.
Em Roma
Quando alcançaram a Porta Capena, centenas de
mulheres e crianças aguardavam o Apóstolo. Obedecendo as ponderações amigas de
Polodoro, o grupo dispersou-se. O centurião considerando que Paulo precisava de
repouso resolveu passar a noite numa hospedaria e apresentar-se com os
prisioneiros no dia imediato, ao Quartel dos Pretorianos.
O centurião, no intuito de esclarecer o caso do
Apóstolo, preferiu esperar o General Búrrus, conhecido por ser honesto.
O ex-rabino foi conduzido ao cárcere até que sua
documentação fosse examinado e seu estado de cidadão romano fosse comprovado.
Após constatação, poderia esperar em liberdade vigiada junto com um soldado
(custódia liberta). Depois de uma semana, em que lhe fora permitido o contato
permanente com seus companheiros o apóstolo recebe ordem de fixar residência
nas proximidades da prisão até que fosse julgado.
O Apóstolo Paulo continuou a redigir Epístolas
consoladoras e sábias as comunidades distantes.
Orientou aos companheiros para procurarem trabalho
e diariamente ia na prisão tomar sua refeição, e aproveitava para pregar aos
detentos.
Paulo pediu a presença dos anciães judeus no seu
aposento para apresentar o Evangelho. Muitos foram e ao ouvi-lo disseram que
conheciam Jesus como um revolucionário condenado e nada sabiam sobre Paulo. Expressaram
desejo que todos ouvissem sua fala e não apenas eles. Foi marcado um dia e
vasta aglomeração de israelitas compareceram no quarto humilde. Paulo pregou a
Boa Nova e explicou a missão de Cristo, desde a manhã até a tarde.
Destoando dos sentimentos da maioria um
velhinho judeu aproximou-se e disse: - Reconheço o exato sentido da vossa
palavra, mas desejaria pedir-vos que este Evangelho continuasse a ser
ministrado à nossa gente. Há seguidores de Moisés bem intencionados, que podem
aproveitar o ensino de Jesus, enriquecendo-se com os seus valores eternos.
Paulo disse que seu quarto estava à disposição e que não poderia pregar
na sinagoga por estar preso. Mas que ia escrever uma carta a eles.
Durante dois meses Paulo trabalhou na carta que
seria conhecida como Epístola aos Hebreus.
Ficou assim preso em Custódia Liberta por quase
dois anos.
Um legionário levou um dia a Paulo um homem de
grande influência política chamado Acácio Domício que tinha ficado cego
misteriosamente, Paulo o curou. Desta forma, prometeu que Paulo seria absolvido
já na próxima semana. De fato, decorrido 4 dias o velho servidor foi chamado a
depor. E devido a simpatia despertada por Paulo e os esforços de Acácio,
que contava até com a amizade de Popéia Sabina, conseguiu a absolvição de
Paulo.
Durante
um mês, no princípio do ano 63, visitou as comunidades cristãs de todos os
bairros da capital do Império. Sua presença era disputada por todos os
círculos, que o recebiam entre carinhosas manifestações de respeito e de amor
pela sua autoridade moral. Organizando planos de serviço para todas as igrejas
domésticas que funcionavam na cidade, e depois de inúmeras prédicas gerais nas
catacumbas silenciosas, o incansável trabalhador resolveu partir para a
Espanha. Debalde intervieram os colaboradores, rogando-lhe que desistisse. Nada
o demoveu. De há muito, alimentava o desejo de visitar o Extremo do Ocidente e,
se fosse possível, desejaria morrer convicto de haver levado o Evangelho aos
confins do mundo.
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